Míseros, o título, é acompanhado de um longo esquema de subtítulos que dá conta, parcialmente, do que conta, com a intenção de identificar mais que temas — esses vão no título primeiro —, formas teatrais arcaicas, da Idade Média, e também contemporâneas, já que hoje o drama, o choro, o escândalo e o espectáculo, são condição de exercício das formas narrativas espectaculares do mundo em que submergimos — nada existe fora do seu arremesso no espaço “público” (mais privado que público) como imagem e “episódio narrativo”. As novelas do real, da política convertida a novela, associadas às telenovelas e aos sistemas publicitário e propagandístico dos imperialismos preenchem o real virtualizado que nos assoma.
O sistema das imagens do espectáculo dominante está, todo ele, ao serviço da demagogia fake que vem destruindo o que a democracia supunha ser, com as suas liberdades e os seus parlamentos — a boçalidade medíocre e a estupidificação alastraram de tal modo que não sabemos se o que aí vem, e que a mentira impôs pelo espectáculo como “verdade” não escrutinada, não será — já o é, em parte — um novo tipo de totalitarismo, resultado de um jogo entre imperialismos globalizado.
A mentira tomou o poder no coração do sistema e corrói-o.
Míseros e seus Prantos, Lamentos, Loas e Pregões, com os diabos em acção na primeira parte e Caronte na segunda, tenta escrutinar estas coisas por meios teatrais. O teatro devolve à realidade uma verdade que o sistema espectacular destrói e manipula.
Ficha Artística
Uma produção do Teatro da Rainha, a partir de textos de Gil Vicente e uma peça inédita de Henrique Manuel Bento Fialho.
Autores | Gil Vicente e Henrique Manuel Bento Fialho
Encenação e montagem de cenas vicentinas| Fernando Mora Ramos
Colaboração Artística | Isabel Lopes*
Políptico | Pintor João Vieira para Gil Vicente e pinturas de Mel Ramos, Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Tom Wesselman, adaptadas por Margarida Araújo e José Carlos Faria, para SNS
Cenografia | José Carlos Faria e Fernando Mora Ramos
Sonoplastia e desenho de som | Francisco Leal
Iluminação | António Anunciação
Adereços | Ricardo Neto (barquinete e cavalo) e Alexandra Agostinho (parras, árvore e máscara da morte)
Figurinos | Espólio do Teatro da Rainha
Interpretação | Beatriz Antunes**, Mafalda Taveira, Fábio Costa, João Costa, Nuno Machado, Vítor M de Sousa e Diogo Marques***
Canção de Aires Rosado | letra de Gil Vicente | interpretação de Fernando Mora Ramos
Design Gráfico e Imagem | José Serrão
Fotografias | Margarida Araújo e Paulo Nuno da Silva
*Professora especialista da ESEC
**Estágio Profissional do IEFP
***Estágio curricular da licenciatura de programação e produção cultural da ESAD
- INFORMAÇÕESSegunda a sexta das 9h às 18h | Dias de espectáculo até às 20h | 262 823 302| 966 186 871 | geral@teatrodarainha.pt
- ESTREIA19 de Julho de 2023 | Largo da Igreja de Nossa Srª do Pópulo
- APRESENTAÇÕESAté dia 23 de Julho | Quarta a Domingo | 21h30