Partindo do poema de Shakespeare, Alfonso Zurro escreveu e desenvolveu uma dramaturgia muito especial. Primeiro para o transformar num monólogo feminino. Depois, abrindo-o em várias linhas dramáticas que ampliem o feito histórico aproximando-o aos nossos dias. Lucrécia coloca-nos perante a violência e a crueldade que implica um acto de violação. Texto límpido que desenvolve diferentes planos de acção. Ao centrar-se nos acontecimentos narrados pelo olhar de Shakespeare, provoca um efeito de perplexidade, que não deixará o espectador indiferente. O tom, a economia expressiva, a firmeza do perfil da personagem, a limpeza da linguagem, a dor física e emocional de Lucrécia… Tudo isto se adensa nesta peça que descreve com clareza o que significa o uso da força, o domínio e a humilhação sistémica da violação como arma machista contra a mulher. Um espectáculo para almas exaltadas.