CADERNO DE APONTAMENTOS
35 CONTEXTOS CÉNICO-DRAMÁTICOS EM NADA CRONOLÓGICOS
QUANDO A IMAGEM PARADA SE MOVE
Essa viagem é necessariamente física, nos dois sentidos, corporal e geográfica: andámos pelo Alentejo uma longa paragem e corremo-lo na íntegra, por todo o país, das ilhas ao Sul do Sul, na raia em Espanha, nos Estados Unidos, em Moçambique, na Roménia, no Porto, Lisboa, Coimbra — nestas cidades temporadas longas. E nas Caldas. Somos por essa razão uma companhia nacional. Mas também porque os parceiros foram sendo vários: o TNSJ, antes de todos, o Cendrev que fundámos, projectámos e nomeámos, os teatros da descentralização, etc. E a Câmara Municipal de Caldas da Rainha com quem temos tido uma relação estimulante, a pró do teatro e da cidade, cidade de teatro na sua escala.
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Uma poética de cena será o quê? É um dado modo de contracena dos corpos que agem no palco. E isso quer dizer o quê? Que não somos pela sua cuidada maquilhagem, mas pelas imperfeições. Não procuramos o bonito mas o belo. É outra coisa que assenta em consequências reais nos espectadores. Tocamo-los se estivermos tocados pelo prazer de fazer e pelo prazer do rigor de fazer. O teatro não são gracinhas nem engraçadismos. É um compromisso fundo com a sociedade e pela mudança. O facto de «imitar» o mundo, de ser um duplo narrativo/imagético, em presença, dos mundos do mundo, na génese — tanto a grega como a que nasce connosco, prontos de pequenos ao gesto de «fingir pela imitação» — significa também que é um revelador — como na fotografia analógica — e que o que revela não é apenas o que é imediato na cena, mas o que de seguida, memória mediata e vivificável, se decompõe nas suas ligações menos óbvias, tornando-se mais claro aquilo que vemos, escondido que se torna escrutinável, obscuridade que se clarifica.
As fotos deste trabalho são de muitos fotógrafos. Essa é uma riqueza única. Contar ao longo do caminho com pessoas como o Acácio Carreira, o Álvaro Corte-Real, o Augusto Baptista, o Joaquim António Silva, o Eduardo Gageiro,
o João Tuna, o José Pessoa, o José Santa-Bárbara, a Lina Cruz, a Margarida Araújo, o Nuno Finote, o Paulo Nuno Silva, a Sara Machado da Graça, o Valter Vinagre e tantos outros que não nomeio, foi, mais que um privilégio, uma vocação: a relação entre teatro e fotografia é bem mais interessante que a que há entre teatro e linguagem vídeo. Quando a imagem de cena captada conta o essencial e parada se move, os corpos observáveis têm aquela potência significante de presença que no vídeo desaparece. É que o teatro se faz de uma sucessão de «paralisias», é uma espécie de paralisia animada. Paradoxo? Sem dúvida. Mas o movimento está também na nossa capacidade analítica de observar sem perder espontaneidade. Como dizia Bernhard, e gostamos muito da expressão, o teatro joga-se numa espécie de intuição inteligente que o capta e faz mover nos nossos cérebros. É corpo e pensamento indissociáveis.
A sequência de espectáculos aqui apresentada é aleatória. Não quisemos seguir esse caminho que leva à morte bem enumerada. Antes nos movem afectos e realizações mais bem conseguidas que outras.
35 anos — 35 situações / contextos / paixões/ instantâneos e retratos.
Fernando Mora Ramos
15,00€
Local de Venda – Teatro da Rainha
Compra online – Transferência bancária no valor de 15,00€ (portes pagos para o continente e ilhas) para o NIB PT50 0035 0183 00064077830 43 com a descrição “35 anos de fotos” (Enviar comprovativo de transferência, nome e morada de entrega para geral@teatrodarainha.pt)