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    Debater o espaço, as arquitecturas, o jogo cénico e a democracia

    Partimos deliberadamente para a ideia de vir a ter como local de trabalho um espaço que reunisse as condições de criação e habitação diárias, oficinais e administrativas, técnicas e de silêncio, do fazer do teatro que queremos e fazemos, desde sempre de modo precário. É um modelo que pode conter os outros que a história conhece, na sua máxima abstração, um espaço de paredes nuas como espaços de significação potenciais para uso cénico. Um teatro de palcos verticais e horizontais, paredes laterais, palco e teia, como um todo, de que cada criação tirará partido. As modalidades de relação entre a cena, as cenas, e a sala, as salas, serão ditadas caso a caso. Hoje em dia, cada criação inventa a sua arquitectura própria, a sua dimensão, o seu cenário. É esse o propósito. Fazer renascer o teatro, como um todo interdisciplinar, no parto de cada objecto em estaleiro, já que a repetição é em processo o seu destino regular, isto é, o ensaio e a maturação do objecto cénico, a passagem do mecânico ao sensível, do dramatúrgico ao estético. E pensando que, de cada vez que construímos um objecto criativo, estamos a propor um modelo de relação, mais aberto ou mais fechado, mais estimulador do sujeito espectador enquanto ficcionador, ou mais “manipulador”, portanto mais ou menos democrático.
    Em plena sociedade do espectáculo o nosso desejo é o de fazer da democracia um acto sensível concreto, algo que faz parte da troca enérgica e do sistema de tensões que cada criação/representação concretiza. Em boa verdade esses sistemas de tensão não partem de formas neutras e a democracia enquanto configuração e modelo de relação entre uns e outros, cidadãos, condicionamento, espectadores e actores, é algo sempre em causa, não um adquirido e por essa razão necessariamente laboratório — aqui não se propõe a inovação pela inovação a partir de um absoluto da cena, pelo contrário, idealiza-se uma relação de jogo entre partes, a cidade não é um destino, um conjunto de consumidores, é uma parte do jogo.
    O Colóquio que aqui organizamos abordará estes temas segundo a visão de cada interventor. Essa riqueza diversa será o alimento necessário para o caminho que queremos trilhar com a invenção do nosso teatro, uma casa comum, uma causa comum.

    Fernando Mora Ramos