Teatro da Rainha e Jean-Pierre Sarrazac : uma viagem | Inês Pereira
Jean-Pierre Sarrazac, nascido em 1946 em Ermont, França, é dramaturgo, encenador, professor e afirmou-se como um dos autores contemporâneos mais importantes das últimas décadas. Após um encontro com Fernando Mora Ramos, em 83, aquando da apresentação da antiga Companhia Cena de Lázaro, também ele sonhava do Eldorado, na Sala dos Modestos no Porto, tivemos o prazer de colaborar em diversas ocasiões.
Dia 16 de Março de 1988, em parceria com o Instituto Franco-Português, estreou O Menino-rei, peça traduzida por Eduarda Dionísio, que se desenrola numa auto-estrada, durante uma viagem repleta de obstáculos. Foi também a primeira vez que colaborámos com Jean-Pierre Sarrazac.
Hoje, trinta e cinco anos depois, preparamo-nos para estrear dia 16 de Março Ajax, Regresso(s), com tradução de Isabel Lopes, também esta uma peça sobre uma viagem, ainda que de contornos completamente díspares.
Parece pertinente, neste contexto, avaliar a nossa própria viagem com este autor, que, ao longo dos anos, se tornou um amigo e um membro da família do Teatro da Rainha.
Depois da estreia de Menino-rei, começam-se a desenvolver os primeiros laboratórios de escrita com o autor – o primeiro, em 92, numa parceria entre a Rainha e o Centro Cultural de Évora, mais tarde, em 95, com a Associação de Escritores Moçambicanos.
Ainda no contexto da parceria Teatro da Rainha/Centro Cultural de Évora, Sarrazac encena o Lavrador da Boémia, de Johannes Saaz, em 1997, e, em 1998, estreia Envelhecer diverte-me, com tradução de Isabel Lopes.
Em 2015, Sarrazac torna-se inequivocamente um dos autores característicos do reportório do Teatro da Rainha. Estreamos em Março O Fim das Possibilidades, traduzido por Isabel Lopes, co-produzido com o TNSJ, e que foi distinguido como um dos 10 melhores espectáculos de 2015. Mais tarde, em Julho, apresentamos ao público A Morte de um DJ, tornando-se a segunda criação do autor num mesmo ano. No seguimento deste trabalho, desenvolvemos ainda, em 2016, a Maratona das Formas Breves, na qual Sarrazac dirige uma oficina de escrita.
Finalmente, em 2021 apresentamos, em parceria com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Lázaro, também ele sonhava do Eldorado, com tradução de Regina Guimarães, espectáculo apresentado à comunidade e que teve diversas sessões com lotações esgotadas.
Assim, com Ajax, Regresso(s), mais do que a uma peça de teatro, assistimos a um testemunho da viagem das relações humanas que o teatro pode engendrar.