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  • DATA14 de Dezembro de 2019
  • HORÁRIO15:00
  • MORADASala Estúdio do Teatro da Rainha | Rua Vitorino Fróis - junto à Biblioteca Municipal - Largo da Universidade | Edifício 2 | 2504-911 Caldas da Rainha
  • INFORMAÇÕES966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt

Comunicações
15h – Fernando Mora Ramos (Director do Teatro da Rainha)
Intervenção de abertura

15h30 – José Ricardo Nunes (Poeta e jurista)
Exemplar

16h00 – Christine Zurbach (Docente do Departamento de Artes Cénicas da Universidade de Évora)
Depois de Rousseau: inventar um teatro para a festa popular e cidadã

16h30 – Nuno Ribeiro Lopes (Autor do projecto do Novo Edifício do Teatro da Rainha)
Dentro e fora da caixa 

Intervalo

17h00 – Alexandra Moreira da Silva (Professora na Escola de Estudos Teatrais na Sorbonne Nouvelle em Paris III-Censier)
Fronteira, dispositivo e hospitalidade: o espaço entre no teatro contemporâneo

17h30 – Manuel Vieites (Director da ESADg, Escola Superior de arte Dramática da Galiza)
Que fazer com os teatros? Para uma necessária convergência com a Europa

18h00 – Debate moderado por José Carlos Faria (Actor e cenógrafo do Teatro da Rainha)

19h00 – Encerramento pela Vice – Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Drª Maria João Domingos

Na terceira edição do TEVD prosseguimos o mesmo objectivo: aprofundar a relação entre as três partes, o teatro, o vazio e o que entre os dois se pode nomear democracia na relação de tensão e jogo entre espectadores e interpretes. A democracia, na relação sala-cena, depende de elementos espaciais e de elementos narrativos estruturais, dos modos de comunicação entre a cena e a sala.

Eu diria que a democracia é o estranhamento. O estranhamento é um “efeito de tornar estranho” que historiciza por contraponto para com as manobras das “naturalizações” que nos levam a dizer “é mesmo assim”, retirando ao que na coisa é percepcionado na superfície apenas e não analisado/criticado na sua dimensão profunda, isto é, o que traz àquela aparência do visível o que parece e é lido literalmente e é outra coisa. É na raiz que se percebe a folha. O crescimento de uma árvore pode ser absolutamente para dentro e só num outro tempo exterior – cresce e parece o contrário. Uma cena familiar pode revelar tudo não aparentando: violência doméstica quando o que vemos é um beijo, fome escondida sob camadas de preconceito, o real é sempre duplo, ambivalente, polissémico. Por isso as virtudes da parábola que age por comparação fazendo um desvio.

Um espaço vazio abre-se a todas as possibilidades. Um texto escrito para cena poderá abrir-se a várias possibilidades. No espaço vazio pensamos configurações, relações entre corpos, entre o corpo cena e o corpo sala, objectos que interrompam o espaço, signos poéticos físicos, esculturas, dispositivos, cenários — neste caso o que vemos é um outro arquitectónico do texto que o faz “viver” com artifício — a arte é uma reconstrução artística do real. Um cenário é um serviço ao jogo e um signo maior como sentido arquitecturado. Uma casa fechada, um bunker, como pode acontecer em Fim de festa, ao mesmo tempo que pode ser o signo de um mundo urbano extinção é também o signo de uma “nova natureza” num contexto apocalíptico. Não estará a ser assim em Tchernobil? Já os lobos voltam com olhar radioactivo no instinto — que natureza virá depois da destruição global? Um texto depende da passada aristotélica ou não, da sua desconstrução indutiva interna, imanente na estrutura, da abertura ou fechamento, do modo de ser posto em cena. A encenação é decisiva numa era de complexidades múltiplas. Não lê, ajuda a ler, não orienta, indaga pelo modo indutivo, armadilha a demagogia que é própria dos discursos dominantes no “espaço público” que como “espaço público” livre é aliás inexistente, apenas existindo um “espaço público venal” — mesmo na intimidade a lingerie fala alto — domindao por signos publicitários. A cidade é uma montra contínua.

O que queremos fazer nestes TEVD é continuar a busca por um teatro da rendibilidade artística, criativa, por um teatro de natureza artística que considere a sala, a assembleia de espectadores, como sujeitos individuais e comunidade instante — nela se forja um pensamento colectivo, no tempo da cena e no tempo da sala — o texto propõe um tempo e um espaço, a sala é um tempo e um espaço múltiplos, cada sujeito é ele mesmo um “texto”, um “drama”. O objectivo é combater presencialmente a mecânica dos prazeres dominados pela via consumo como relação obrigada — no teatro não estamos no Centro Comercial a ver desfilar montras diante dos olhos cegos, nem diante da TV, nem submersos em publicidade urbana, nem, etc., estamos em “cidadania activa” a LER (ler não é consumir), isto é, a pensar no tempo do seu ritmo — reflectir não é pavloviano — lento e contra os ritmos que impostos de fora fazem funcionar a máquina do capitalismo especulativo, a que outros chamam capitalismo cultural — atente-se bem na expressão.
Somos antídoto pela via da pergunta?
Nem tudo são soluções e milagres, nem a tecnologia se substitui à vida real.
Aqui quem manda é a razão emotiva e a emoção racional.