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  • Apresentação29 de Janeiro | 21h30 | Teatro Bernardim Ribeiro | Estremoz

UMA SALA CHEIA DE APLAUSOS
Critica de Valentim Nataniel

Quem vier a deslocar-se à sala estúdio do Teatro da Rainha até ao próximo dia 4 de Dezembro para assistir a “Pertinho da Torre Eiffel”, dificilmente adivinhará como o apartamento humilde do cenário se transforma, ao fechar do pano, numa luminosa casa cheia de aplausos. Foi precisamente o que aconteceu no passado dia 18 de Novembro, noite de estreia com sala lotada e ovação final exigindo o regresso dos actores por diversas ocasiões. Ao palco desceram também o encenador Fernando Mora Ramos e o autor Abel Neves, recebendo e retribuindo a aclamação de um público onde se incluía Américo Rodrigues, actual director da DGARTES.
Que podemos dizer do trabalho da dupla de actores Fábio Costa e Marta Taveira nesta peça? Mais adequado será vê-los em acção do que elogiá-los aqui, pois todos os elogios são escassos perante a magnífica entrega a duas personagens que não nos deixam indiferentes. Em Jasmim e Jana, o casal suburbano do texto de Abel Neves, espelham-se as ambiguidades, as dúvidas e as hesitações, as incertezas de inúmeros casais perseguidos pela precariedade neste nosso tempo detergente, como diria o poeta Ruy Belo. Este é, sem dúvida, um dos aspectos mais tocantes do espectáculo, o modo como a economia de meios e a simplicidade de processos são capazes de oferecer ao público uma complexa teia de emoções a partir de uma modelação das personagens que se isenta de juízos morais sobre as personalidades em cena e as suas acções.

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«É normal um gajo ali parado sem saber ao que vai?», pergunta Jasmim logo no início de “Pertinho da Torre Eiffel”. A questão é dirigida a Jana, cuja presença notamos por lhe escutarmos a voz enquanto trauteia um fado. Assim começa esta peça de Abel Neves (n. 1956) que o Teatro da Rainha estreará, com encenação de Fernando Mora Ramos, entre os próximos dias 18 de Novembro e 4 de Dezembro. Os actores Fábio Costa e Marta Taveira serão, respectivamente, Jasmim e Jana, o jovem casal urbano emparedado numa precariedade ao mesmo tempo material e amorosa, porque ambas as dimensões se interligam e se condicionam.
Natural de Montalegre, Abel Neves é um dos mais produtivos autores do teatro contemporâneo português. Além de cerca de 50 peças, assinou 9 romances, 4 livros de poesia, uma colectânea de contos e outra de ensaios. Trabalhou doze anos na Comuna – Teatro de Pesquisa nas áreas de Dramaturgia e Assistência Literária, tendo sido responsável, na mesma companhia, pela disciplina de Dramaturgia no Curso de Formação de Actores e Animadores Culturais entre os anos de 1987 e 1989. Recebeu o prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva com o texto “Jardim suspenso” (2009) e foi distinguido com o prémio Autores 2014 pelo Melhor Texto Português Representado em 2013: “Sabe Deus Pintar o Diabo”. Estará em Caldas da Rainha, nos próximos dias 20 e 21 de Novembro, para um Laboratório de dramaturgia promovido pelo Teatro da Rainha.
“Pertinho da Torre Eiffel” explora a instabilidade doméstica a partir de duas personagens fisicamente presentes e outras tantas ausentes, num jogo de interacções que excede aquilo que se vê. O visível assume pontos de vista diversos, desde logo, num cenário móvel que oferece diferentes ângulos de observação de uma relação amorosa em busca de equilíbrio na corda bamba existencial. Em cena, tudo parece vacilar e perder-se em hesitações inconsequentes. O que é um casal normal? Poderá a ruptura ser rotina? O que esperam da vida Jana e Jasmim? Têm sonhos? Ambições? São perguntas cujas respostas se estudam a partir de quadros proporcionalmente cómicos e melancólicos, como se estivéssemos a olhar para alguém que patina sem sair do mesmo lugar. Ou talvez como um daqueles globos de neve que os turistas compram para se sentirem “Pertinho da Torre Eiffel”.

Ficha Artística

AUTOR | Abel Neves
ENCENAÇÃO E CENOGRAFIA | Fernando Mora Ramos
MÚSICA | Augusto Lino
ILUMINAÇÃO | António Anunciação

INTERPRETAÇÃO | Fábio Costa e Marta Taveira

ILUSTRAÇÃO E DESIGN GRÁFICO: José Serrão
FOTOGRAFIAS: Margarida Araújo e Paulo Nuno Silva