DESENHOS DE JOSÉ CARLOS FARIA
TEATRO DA RAINHA 1985 /2012
Museu José Malhoa
Caldas da Rainha
Até 2 de Setembro
Completar 25 anos (+1 e ainda outro) no contexto sempre débil e precário do Teatro em Portugal, é, admitamo-lo, um feito.
Cumpre-se pois um quarto de século por «teatros e abrigos», duas décadas e meia em deambulações e formações por cidades e, de igual modo, por aldeias e lugares, levando o teatro onde o teatro nunca tinha ido, em paralelo com digressões internacionais e no país, por um circuito de referência.
O Teatro da Rainha traz no nome o gesto fundador do Teatro Português – o núcleo de comediantes que Gil Vicente congregou à sua volta, beneficiando do interesse e protecção da Rainha Leonor.
O entendimento do Teatro como manifestação do pulsar da Polis e ao seu serviço, na luta pelo reconhecimento dum direito de cidade tão amiúde negado, está inscrito nas opções de reportório – Clássicos e Contemporâneos – pão do espírito, Serviço Público (tão indispensável como a água) virado para Comunidade, ajudando a formar cidadãos esclarecidos.
O theatron, na matriz grega, era o «local onde se vê», ritual e factor de consciência social; o Teatro, «lugar onde nada existe e tudo pode acontecer», palco do Mundo que conta as histórias dos homens, é o que dele sobra – ser efémero…
O que foi feito e aqui fica, nunca aspirou ao estatuto de obra de arte (com aspas ou sem elas). São, antes do mais, testemunhos de um trabalho que se constrói, desconstrói e reconstrói, artesanato em busca da depuração, rascunhos, apontamentos cromáticos, estudos (estados), escalas técnicas, indicações para compreender por dentro das competências específicas convocadas, oferecidas e aferidas pelo precioso saber-fazer (o talento dos mestres-construtores e mestras de costura, chefes-maquinistas, iluminadores e aderecistas, tudo ofícios raros e exigentes, de segredos sensíveis); tentativas que o labor dos ensaios irá validar (ou não), esboços em que o desenho é instrumento que guia, a mão que ao riscar e arriscar, vê e descobre, e auxilia depois a fazer ver, conceptual/material, nessa permuta essencial com os espectadores, de que o teatro vive e necessita.
Estes esquissos são pois património colectivo de tudo aquilo que ao longo dos anos partilhámos juntos, os que fizeram e os que viram, marcos de estrada duma viagem em que todos fomos assim elaborando a aura de memória dos espectáculos, caminho andado para o que virá, o que está para vir, (desde logo, a construção de um novo edifício teatral, de portas franqueadas, sede fraterna da alegria, território fértil da imaginação poética, instrumento gerador da comunhão de afectos entre o Teatro – ponto de encontro de todas as artes – e os seus Públicos) a invenção de uma utopia latente da promessa e do provir de um teatro ( e uma «realidade nova») possível; por vir…