Tradutor, escritor, dramaturgo, Virgílio Martinho foi um poeta da “palavra acto”. Serviu-se da ficção como forma de expressão por excelência, uma ficção que, nas palavras do escritor e crítico Luís Miguel Rosa, é performance em vez de relato realista, é uma realidade autónoma, auto-consciente que não quer moralizar nem educar, quer dar prazer. Mas não escreveu apenas ficção, como atestam os “Vinte & Um Poemas” divulgados pela revista A Ideia em 2016. Diz-se também que, resistindo a modas, escolas e movimentos, corporizou uma “liberdade livre”, essa mesma liberdade rimbaudiana que cremos ser a essência da poesia. Em época de cinquentenário abrilista, não podíamos deixar de contribuir para resgatar esta obra da penumbra em que mergulhou. Para nos falar dela convidámos o escritor, poeta e editor Carlos Alberto Machado, que com Martinho conviveu e dele vem agora recuperando, em vários volumes publicados na editora Companhia das Ilhas, este labor ímpar na história da literatura portuguesa.
Virgílio Martinho (Lisboa, 1928-1994) teve uma relação de proximidade com o “movimento surrealista” do Café Gelo nas décadas de 50 e 60 do século XX. Trabalhou como desenhador de Obras Públicas desde 1956 até à aposentação, 30 anos depois. Em 1958, publicou a novela, de pendor fantástico, “Festa Pública”, na colecção “A Antologia em 1958”, dirigida por Mário Cesariny. Na mesma linha, seguiram-se os contos de “Orlando em Tríptico e Aventuras” (1961), e, noutro registo, “Rainhas Cláudias ao Domingo” (1972). Com Ernesto Sampaio, organizou para as Edições Afrodite a icónica “Antologia do Humor Português” (1969) – mais de mil páginas. Em 1970, deu início a uma vertente que se tornará dominante na sua obra, o teatro, com a publicação da peça “Filopópulus”, na revista Grifo (texto encenado por Joaquim Benite em 1973). Seguiram-se dezenas de outros textos no Grupo de Teatro de Campolide, actualmente Companhia de Teatro de Almada. Com “Relógio de Cuco” (1973) distancia-se das fórmulas surrealistas. Militante do MUD, esteve preso no Aljube, e já depois do 25 de Abril esteve na base da criação de um Sindicato. Em “O Grande Cidadão” (1963), romance a todos os títulos excepcional, denuncia as políticas de opressão, tortura e censura aterrorizantes de que se alimentam as tiranias. Faleceu em Lisboa, a 4 de Dezembro de 1994.
Carlos Alberto Machado (Lisboa, 1954) é licenciado em Antropologia e mestre em Sociologia da Comunicação e Cultura. Escreveu ensaio, teatro, poesia, contos, romance. Foi professor de teoria e investigação nas Licenciaturas em Teatro da Universidade de Évora e da Escola Superior de Teatro e Cinema. Tem colaboração dispersa por várias revistas e antologias. O primeiro livro de poesia, “Mundo de Aventuras”, surgiu em 2000. Nove anos depois, reuniu num só volume a sua produção poética: “Registo Civil” (Assírio & Alvim). Em 2009, publicou na & etc “5 Cervejas para o Virgílio”, breves recriações sob a forma de drama de conversas com Virgílio Martinho. Editor da Companhia das Ilhas, que fundou com Sara Santos em 2011, tem vindo a exercer um importante papel na edição de novos autores e na recuperação de obras algo esquecidas. Vive nas Lajes do Pico (Região Autónoma dos Açores).
Dia 21 de Maio, às 21h30, recordaremos a obra de Virgílio Martinho conversando sobre o autor e lendo excertos dos seus livros.
Entradas condicionadas aos lugares disponíveis.
Valor da entrada | 3,00€
- DATA21 de Maio de 2024
- HORÁRIO21h30
- INFORMAÇÕES E RESERVAS966 186 871 | geral@teatrodarainha.pt
- MORADASala Estúdio do Teatro da Rainha | Rua Vitorino Fróis - junto à Biblioteca Municipal - Largo da Universidade | Edifício 2 | 2504-911 Caldas da Rainha