Prestes a concluir mais um ano de Diga 33 – Poesia no Teatro, não quisemos passar ao lado do centenário de Natália Correia e respigámos na “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” matéria para um recital que se prevê excitante. Precisamos disto, nestes tempos frígidos de cancelamentos e de puritanismos recrudescidos que ameaçam atirar-nos para o medievalismo mais obscurantista em matéria de costumes e debate público. Que melhor e mais poderoso instrumento de combate ao moralismo do que esse legado satírico, maldizente, burlesco, escarninho e erótico que está nas raízes da nossa literatura e a partir delas foi conhecendo, ao longo dos séculos, diversas ramificações?
Natália Correia (Fajã de Baixo, São Miguel, Açores, 1923-1993) veio estudar para Lisboa ainda criança e lançou-se na carreira literária com a publicação de um romance infantil. Foi como poeta (não gostava que lhe chamassem poetisa) que se afirmou, estreada em 1947 com o volume “Rio de Nuvens”. A sua actividade desdobrou-se pelos campos do ensaio, romance, teatro, tornando-se figura destacada da resistência ao fascismo com vários livros apreendidos pela censura. Em 1969, abriu com Isabel Meyrelles, no bairro da Graça, o bar conhecido como Botequim, lugar de memoráveis tertúlias e carismáticos saraus. Condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela organização da “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, foi novamente processada como responsável editorial das “Novas Cartas Portuguesas” de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Depois do 25 de Abril de 1974, foi deputada eleita pelo PSD, passando a deputada independente durante a legislatura discordar das posições conservadoras em matéria de costumes do partido de Francisco Sá Carneiro. Voltou a ser eleita deputada pelo PRD, já no final da década de 1980. Foi várias vezes condecorada e, em 1991, distinguida com o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Os Sonetos Românticos”.
Nos tempos em que a censura estava institucionalizada, parte dos intelectuais lisboetas refugiava-se nos cafés cultivando um ódio comum: o Regime, o Estado Novo, Salazar. E havia os que “iam à Natália”, a “intelligentsia antifascista” que, após o cinema ou o teatro, subia à moradia da poetisa de Ponta Delgada para serões de boémia e má-língua. Chegado do Norte em 1963, o então jovem Fernando Ribeiro de Mello (1941-1992) foi levado a frequentar essas tertúlias. Aí foram germinadas as Edições Afrodite, nome proposto por Natália. O segundo livro publicado pela editora, corria o ano de 1965, foi a “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, organizada por uma Natália Correia que assim se viu chamada à Judiciária para prestar contas sobre o escândalo provocado pelo volume desaparecido do mercado enquanto o diabo esfrega um olho. Sujeita a buscas pela PIDE nas moradias do editor, da organizadora e dos colaboradores, a Antologia foi imediatamente ilegalizada e deu em processo no Tribunal Plenário de Lisboa.
De um vasto leque de autores situado entre os séculos XIII e XX, escolheremos duas mãos cheias poemas que se distribuirão pelas vozes de Beatriz Antunes, Inês Barros, Henrique Manuel Bento Fialho, José Carlos Faria e Mafalda Taveira. E de quem mais se queira juntar a nós para cantar o riso e o amor. Dia 12, às 21h30, na Sala Estúdio.

Entradas condicionadas aos lugares disponíveis. Reserva de lugar obrigatória.
Valor da entrada | 3,00€
Informações e reservas: 262 823 302 | 966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt

  • DATA12 de Dezembro de 2023
  • HORÁRIO21h30
  • INFORMAÇÕES E RESERVAS966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt
  • MORADASala Estúdio do Teatro da Rainha | Rua Vitorino Fróis - junto à Biblioteca Municipal - Largo da Universidade | Edifício 2 | 2504-911 Caldas da Rainha