No dia 8 de Outubro de 1998, a Academia Sueca anunciava mais um Prémio Nobel da Literatura. Este era especial, era português, o primeiro e, até ver, o único. Momento representativo de reconhecimento da literatura portuguesa fora de portas, o Nobel atribuído a José Saramago surgia poucos anos depois deste decidir fixar-se em Lanzarote, Ilhas Canárias, na sequência de uma polémica envolvendo a Igreja Católica e o então Subsecretário de Estado da Cultura de Portugal. Motivo: o veto do romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) de uma lista de candidatos ao Prémio Aristeion.
Agora que se comemoram 100 sobre o nascimento do escritor português, a pompa e circunstância celebrativa tenderá a manter na penumbra esse facto inapagável de também Saramago haver sido vítima de um Estado mais sensível aos ditames de instituições conservadoras do que empenhado na defesa de agentes culturais capazes de problematizar o real. Aproveitamos o embalo, e propomos um mês saramaguiano com dois momentos que terão em comum a vontade de abordar a obra de José Saramago sob prismas pouco convencionais.
A 10 de Novembro, e no âmbito do protocolo entre o Teatro da Rainha e o Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha, acolheremos no grande auditório do CCC o espectáculo “Quem se chama José Saramago”, uma co-produção do Teatro das Beiras (Covilhã) com o Karlik Danza Teatro (Cáceres, Espanha). Cinco dias depois, dia 15, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha terá lugar mais uma edição de Diga 33 – Poesia No Teatro, inteiramente dedicada à obra de José Saramago e ao que nela descobrimos de menos conhecido e debatido: a poesia.
Para o efeito, convidámos a estar connosco o crítico e ensaísta Manuel Frias Martins (n. 1949). Doutorado em Teoria da Literatura, professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Manuel Frias Martins é Presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários. Entre os vários ensaios que assinou, destaca-se “A Espiritualidade Clandestina de José Saramago” (2014, com edição aumentada em 2020), pelo qual recebeu, em 2015, o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores. É também autor dos livros “Herberto Helder. Um Silêncio de Bronze” (1983, com edição aumentada em 2018) e “10 Anos de Poesia em Portugal: 1974-1984 – Leitura de Uma Década”. Traduziu e prefaciou várias obras, de que é exemplo “O Cânone Ocidental” (1997), de Harold Bloom. Em 1994 recebeu o Prémio Pen Clube de Ensaio pelo livro “Matéria Negra. Uma Teoria da Literatura e da Crítica Literária” (1993).
Recentemente reunida num só volume, a “Poesia Completa” (Assírio & Alvim, Outubro de 2022) de José Saramago será um dos motivos fortes para esta conversa. Apesar de mais conhecido pela prosa narrativa, José Saramago estreou-se na poesia com “Os Poemas Possíveis” (1966), muito antes do seu segundo romance, “Manual de Pintura e Caligrafia” (1977), e quase 20 anos passados sobre a publicação do primeiro, “Terra do Pecado” (1947). Mas não tem também uma forte carga poética um romance como “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984)? Disso falaremos dia 15, pelas 21h30, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha.

  • DATA15 de Novembro de 2022
  • HORÁRIO21h30
  • INFORMAÇÕES E RESERVAS966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt
  • MORADASala Estúdio do Teatro da Rainha | Rua Vitorino Fróis - junto à Biblioteca Municipal - Largo da Universidade | Edifício 2 | 2504-911 Caldas da Rainha