Uma imagem vale por mil palavras, diz-se hoje sem se saber exactamente o que se está a dizer. Atribui-se a expressão a Confúcio, filósofo chinês que viveu há 2500 anos. Confúcio elogiava o silêncio em oposição ao ruído, o ritual do gesto contra o palavreado fútil, a relevância de contemplar em vez de tagarelar. Estávamos muito longe das sociedades de consumo desenfreado — mais correcto seria chamar-lhes agora sociedades de desperdício — e da voracidade de imagens com que somos diariamente bombardeados.
Lê-se no jornal que a poluição luminosa mata milhões de aves todos os anos e não conseguimos evitar de pensar que nunca houve tanta luz para tamanha obscuridade. Quem é que ainda sabe ouvir? Quem é que contempla? Quem é que está disponível para escutar e observar? Entre os povos indígenas das Américas, só ascendia ao estatuto de narrador quem tivesse ocupado anteriormente o lugar de narratário. A capacidade de ouvir legitimava o poder dizer. Não é assim entre nós, assaltados que fomos pela tagarelice num mundo saturado de imagens.
Perante tal paisagem, é inevitável questionarmo-nos sobre a poesia enquanto linguagem que tende para o silêncio, um silêncio composto de imagens desenhadas pelas palavras. A força da poesia está também nessa resistência ao ruído, numa estética do mínimo que nos salvaguarda da excitação mediática. Convidámos a poeta Sandra Costa a pensar nestas e noutras questões, porque na sua poesia redescobrimos o silêncio em diálogo com as imagens, nomeadamente com a fotografia.
Sandra Costa (São Mamede de Coronado, 1971) nasceu no concelho da Trofa e é professora de História do Ensino Básico e Secundário. Estreou-se com o livro “Sob a luz do mar” (Campo das Letras, 2002), publicado com o apoio do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, entretanto excluído da sua poesia reunida com o título “Manual da Vida Breve” (Officium Lectionis, 2021). Neste livro, coligiu obras antes publicadas pelas editoras In-Libris, Cosmorama e volta d’mar, acrescentando-lhes três inéditos. A sua obra mais recente nasceu de uma parceria com a poeta Ana Paula Inácio (Porto, 1966): “Menos uma hora nos Açores” (volta d’mar, Junho de 2022).
Do encontro agendado para o próximo dia 18 de Outubro, espera-se uma conversa límpida como água de nascente. «O que quero dos regressos e dos poemas / é essa circunstância de serem fontes.», diz a autora num dos seus poemas. Diga 33 – Poesia no Teatro será em Outubro um espaço de leitura e de contemplação, já que contamos reproduzir algumas fotografias que estiveram na origem dos poemas de Sandra Costa. Abordaremos o seu percurso percorrendo a obra, escutando-a e perscrutando-a. Encontro marcado para as 21h30 na Sala Estúdio do Teatro da Rainha, que a nossa guerra é a do núcleo a partir do qual a humanidade se desenvolve e emancipa.
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Valor da entrada | 2,00€

Informações e reservas: 262 823 302 | 966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt

  • DATA18 de Outubro de 2022
  • HORÁRIO21h30
  • INFORMAÇÕES E RESERVAS966 186 871 | comunicacao@teatrodarainha.pt
  • MORADASala Estúdio do Teatro da Rainha | Rua Vitorino Fróis - junto à Biblioteca Municipal - Largo da Universidade | Edifício 2 | 2504-911 Caldas da Rainha