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  • ESTREIA3 de Julho de 2019 | Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha
  • APRESENTAÇÕESaté 6 de Julho

Ficha Artística

Tradução | Luís Varela
Encenação e adaptação | Fernando Mora Ramos
Cenografia | José Serrão
Desenho de Som | Francisco Leal
Desenho de Luz | Filipe Lopes com Fernando Mora Ramos
Máscaras | Filipe Feijão – Origami produções, cenografia e audiovisuais, Ldª

Interpretação | Alexandre Calçada, Fábio Costa, Isabel Leitão, José Carlos Faria, Carlos Borges, Mafalda Taveira, Cibele Maçãs, Venâncio Calisto, António Plácido, José Ferreira, Manuel Freire, Adélia Duarte, Vítor Duarte, Nuno Machado e o coro: Cacilda Caetano, Fernando Rodrigues, Filipe Ferreira, Luís Coto, Manuel Gil e Teresa Paula .

Imagem e  Design gráfico | José Serrão (imagem a partir de desenho de Fernando Mora Ramos)
Fotografia | Margarida Araújo

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A CIDADE DOS PÁSSAROS, de Bernard Chartreux
(adaptação de “As aves” de Aristófanes)

As aves, de Aristófanes, falam de uma Atenas paralisada pelo juridiquismo tribunalício, pela burocracia, longe da Atenas democrática. E pela corrupção e amiguismos. Na peça se concebe uma fábula : dois atenienses, Evélpidos e Pisteteros, partem para o território livre das aves, nas nuvens, em busca de espaço para fundar uma cidade nova, tendo um gaio como bússola e a informação de que, Tereu, rei humano convertido em pássaro por Zeus, como castigo, tem informações sobre onde tal terra existe.

O texto de Aristófanes está, no entanto, demasiado preso ao seu tempo, as suas referências a pessoas e instituições, a localizações no tempo, tornam o texto hermético hoje e convertem-no em “material” a reinventar, segundo critérios de aproximação lúcida, e produtiva semanticamente, aos nossos tempos.

Foi o que Chartreux fez com a sua Cidade dos pássaros, não perdendo entretanto a oportunidade de alargar o contexto grego, introduzindo outras peças na adaptação, nomeadamente Édipo Tirano e Édipo em Colono, curiosamente tragédias. Com os três textos constrói uma misturada, uma trilogia vazada em síntese cómica. Esse alargamento temático estabelece ligações entre a Grécia histórica e a do mito, e transporta esses elementos para a actualidade. Que actualidade? A da democracia liberal burguesa dos dias de hoje, a do fechamento da Europa universalista sobre si mesma como “nação”, centrada mais num modo de vida das suas classes médias  e sua economia — a dos bancos e das crises sucessivas — que no seu universalismo cultural e nas liberdades. Isso explica que a certa altura se adjectivem as “qualidades” desta democracia do seguinte modo: corrupção, tráfico de influências, manipulação dos espíritos, censura por vias directas e indirectas, xenofobia, enriquecimento ilícito e pobreza extrema, demagocracia, em suma. Um retrato do que antes na Europa se dizia ser um tal Terceiro Mundo, tiranocracias.

Chartreux trabalha a utopia aristofânica que a peça propõe como uma distopia, num primeiro tempo a ficção constrói-se em registo para-militar, uma fortificação — um muro à Trump — generalizada e num segundo tempo declara-se guerra aos imediamente próximos, humanos e divinos, Mundo e Olimpo. O projecto de Pisteteros – Pisteteropolis – é, finalemente, a ditadura, uma ditadura que passa pela escravização do povo livre dos pássaros, um regime colonial-tirano, que passa pela provocação aos viznhos, pela imposição de impostos e tributos aos fumos sacrificiais.

A adaptação de um clássico — clássico popular — cumpre aqui o seu papel. É pela via da recriação escrita, da nova estruturação narrativa e da inclusão de elementos históricos que se invoquem de lá – século V antes de Cristo – para cá – século XXI, que a nova fantasia, com pregnância nas visões de hoje, cumpre um papel.

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