Diga 33
Poesia no Teatro
Às terças terças-feiras de cada mês

(Programa elaborado por Henrique Manuel Bento Fialho)

ÀS TERÇAS
NO TEATRO

Por onde anda a poesia? Quem a escreve? Quem a publica? Quem a lê? Quem são os poetas do nosso tempo? Terá a poesia leitores? Que motivações alimentam os editores de poesia?
A ideia de organizar um ciclo de poesia no Teatro da Rainha surgiu de uma vontade de explorar territórios pouco explorados, fazer-lhes o reconhecimento e dá-los a conhecer. Propõe-se, numa fase inicial, uma digressão pela poesia contemporânea portuguesa. Queremos ouvir poetas e editores, queremos tentar perceber como mantêm viva a chama de Orfeu numa época em que a vertigem de imagens parece deixar pouco espaço à palavra.
Condenada à morte por uns, odiada por outros, a poesia foi desde sempre uma arte controversa. Talvez hoje o seja ainda mais, pelo carácter de resistência de que se faz valer. Resistência ao imediatismo, resistência ao mediatismo, resistência ao espectáculo, entendido não como transfiguração, expressão, representação, mas antes como mera exibição de luzes capazes de levar à cegueira.
Avessa ao deslumbramento, a poesia espanta, subverte, baralha, desconstrói, a poesia exige daquele a quem se dirige uma predisposição para aceitar o diverso. Ora, estaremos ainda dispostos a aceitar o diverso? Como conciliar tamanha exigência com o quotidiano reducionista das redes sociais? Como manter no pensamento níveis de exigência constantemente traídos pela infantilização social?
O espaço teatral surge-nos, pois, como um espaço privilegiado para a exploração do território poético. Também hoje o teatro nos surge enquanto modo de resistência. Com a poesia, ele partilha a inquietação e o fingimento de que falava Pessoa. Um fingimento que é a dimensão mais profunda da verdade. O actor, tal como o poeta, vê aparecer a manhã sobre a cama. Citamos Herberto, que foi poeta, que foi actor.
Não nos move qualquer veleidade do conhecimento. Sabemos que muitas das perguntas a que tentaremos responder não têm resposta. Não têm, pelo menos, uma resposta definitiva. Mas sabemos também que nunca o infinito foi impedimento à caminhada. Queremos ouvir quem insiste na caminhada, perceber em que direcções seguem os passos de quem caminha, queremos escutar o som das palavras directamente saídas da boca de quem as escreveu.
Uma vez por mês, à terceira terça-feira de cada mês, teremos um poeta e um editor de poesia, ou alguém que seja ambas as coisas, ou alguém que, não sendo nenhuma delas, insista em escrever como se fosse poeta e em publicar como se fosse editor. Privilegiaremos o contacto directo e informal através da conversa, do diálogo, da partilha de histórias e, sobretudo, da escuta de poemas. Porque a escrita e a escuta, articuladas uma com a outra, veiculam a aprendizagem. Ao cabo, outra coisa não pretendemos que não seja aprender.

Henrique Manuel Bento Fialho

Programa completo
16 de Janeiro: Nuno Moura (autor e editor nas editoras Mia Soave e Douda Correria) e João Paulo Esteves da Silva (músico, autor, tradutor)
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20 de Fevereiro: Paulo da Costa Domingos (autor e editor na Frenesi)
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20 de Março: manuel a. domingos (autor e editor na Medula)
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17 de Abril: Carlos Alberto Machado (autor e editor na Companhia das Ilhas)
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15 de Maio: Miguel-Manso (autor) e Pedro Mexia (autor, crítico, coordenador da colecção de poesia da Tinta-da-China)
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19 de Junho: Miguel de Carvalho (autor, livreiro antiquário, editor na Debout Sur L’Oeuf)
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17 de Julho: sessão de homenagem a Rui Costa, com a presença de André Corrêa de Sá, Margarida Vale de Gato, Cláudia Souto e de Vasco David, editor na Assírio & Alvim
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18 de Setembro: Helena Vieira (editora na Mariposa Azual, organizadora da antologia “Voo Rasante”)
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16 de Outubro: m. parissy (autor e editor na volta d’mar) e Jaime Rocha (autor)
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20 de Novembro: Recital
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18 de Dezembro: Ventilan (concerto de Natal)
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